Vanguart - Muito Mais Que o Amor
Alternative, Brasil
2013
Uma das bandas nacionais de maior destaque dos últimos anos, os cuiabenses do Vanguart lançaram no final de agosto este que é o terceiro disco do grupo. Intitulado "Muito Mais Que o Amor", o registro possui um intervalo de apenas dois anos de seu antecessor, o elogiado "Boa Parte de Mim Vai Embora", porém a expectativa para o seu lançamento era grande devido às inúmeras vezes que foi adiado. Produzido por Rafael Ramos, o álbum surpreende por mostrar uma banda mais à vontade no estúdio, experimentando outros patamares e incorporando novos instrumentos à sonoridade.
Ficou claro também que os rapazes quiseram dar um passo à frente na carreira, explorando uma vertente mais abrangente e comercial, e por que não dizer, popular? Para tal, se utilizaram de uma linguagem mais acessível, apostando em canções mais alegres e ensolaradas. Entre erros e acertos, a banda também optou por um registro mais enxuto que seus anteriores, apresentando ao todo onze canções.
"Estive" abre o disco de maneira radiofônica: com uma levada folk acelerada e carismático apelo pop, a canção possui uma estrutura musical que vai crescendo gradativamente. Destaque para o emocionado vocal de Helio Flanders, declamando calorosos versos como "Uma vida é pouca pra gente ser feliz". Nunca o Vanguart soou tão radiante. A música também foi escolhida como primeiro single, característica já constante na carreira da banda, uma vez que as primeiras faixas dos trabalhos anteriores também acabaram se tornando carro-chefe de cada disco. Esta talvez seja a canção mais comercial dos rapazes até aqui.
A faixa seguinte, "Demorou Pra Ser", começa mansinha e imediatamente nos remete ao disco anterior, seja pelo arranjo característico ou a temática intimista. É interessante observar que, à partir daqui, grande parte das canções contam com um dueto vocal de Flanders e o baixista Reginaldo Lincoln, como é o caso de "Eu Sei Onde Você Está", forte candidata a hit, é mais uma faixa que possui uma atmosfera mais exultante e caracterizada por um marcante riff de guitarra no melhor estilo slide, que vai se repetindo durante toda a música.
Mantendo o alto-astral, a apaixonada "Meu Sol" briga pelo posto de melhor do disco, com destaque para belo arranjo de violino (ponto para a talentosa Fernanda Kostchak, agora definitivamente integrada à banda), que dá um toque todo especial à música, numa das melodias mais bonitas do álbum. "A Escalada das Montanhas de Mim Mesmo", como o próprio nome sugere, é uma triste canção que se arrasta pelos seus três minutos e quinze segundos de duração, lembrando os momentos mais melancólicos do Los Hermanos com arranjos de metais tão explorados em seus últimos trabalhos. "Sempre Que Estou Lá" é uma canção mais convencional com guitarras e teclados característicos da banda e também remete ao disco anterior. "Vamos pisar nos pedais e fugir" canta Helio no bonito refrão.
"O Que Seria de Nós" começa muito bem com bandolim e gaita solando em primeiro plano, mas peca pela óbvia letra e curta duração. Helio começa a cantar pobres versos como "O que seria de você sem mim? / O que seria de mim sem você? / O que seria de nós dois sem nós?" e não convence, numa passagem pouco inspirada, temos que admitir. Se a intenção era fazer uma pequena vinheta, deveriam ter dado mais atenção à letra, criando algo mais impactante. Aliás, no quesito poesia, e até pelo histórico da banda após o elogiadíssimo disco anterior, era esperado uma contínua evolução nas composições, o que acaba não se concretizando totalmente. Oscilando entre momentos mais inspirados e outros bem regulares, a sensação que fica é que Flanders se manteve no mesmo patamar, como é o caso da mediana "Pelo Amor do Amor".
Levada à cabo por um piano, a surpreendente "Pra Onde Eu Devo Ir" chega a lembrar as famosas duplas sertanejas que surgiram no início dos anos noventa, talvez pela temática e o (ótimo) dueto vocal de Flanders/Lincoln. Mais um ponto para o Vanguart que não teve medo de ousar, criando uma inusitada melodia e chegando a um resultado bem interessante. Se os rapazes tinham receio de explorar a fundo o dueto vocal fazendo-o ocasionalmente, neste disco fica evidente que é uma veia que pode ser muito bem explorada daqui em diante.
Diferentemente dos discos anteriores, a participação de Reginaldo Lincoln nos vocais principais limitou-se apenas à canção "Mesmo de Longe", mantendo sua influência pop característica e vocais melódicos já usuais em suas composições. A música é boa e trás novamente a dupla Flanders/Lincoln dividindo os vocais no refrão. "Olha Pra Mim" encerra o disco de maneira desolada. Aqui o bandolim e os sopros conduzem a melodia emocionada enquanto Helio se despede com versos esperançosos: "Vem cá, eu vou te dar tudo de mim / E o amor irá nos acompanhar até o fim". O que virá depois?
Site oficial:
www.vanguart.com.br