St. Vincent - Actor
Alternative, United States
2009
Annie Clark, a mesma que compõe a bela capa acima, cujo nome artístico é St. Vincent, é uma jovem compositora estadunidense, multi-instrumentista, que em 2009 lançou o seu segundo e aclamado álbum, entitulado Actor. Este é um dos meus discos favoritos dos últimos anos e uma das pérolas que a música atual ainda nos proporciona. Desenvolvido com a ajuda de recursos modernos como o GarageBand, este solene registro não é apenas um amontoado de canções dispostas em qualquer ordem: trata-se de uma obra no contexto mais simples de seu significado, devendo assim ser apreciada como um todo, da primeira à última faixa.
Produzido pela própria cantora em parceria com John Congleton, o disco inicia com "The Strangers", canção que começa despretensiosa e em versos circulares (voltando sempre à frase "Paint the black hole blacker"), e aos poucos vai incorporando novos instrumentos até apresentar, quase ao final, um distorcido riff de guitarra. A canção lentamente vai perdendo velocidade até retornar ao ritmo inicial e acabar quase da mesma forma que iniciou. Quase que imediatamente, "Save Me From What I Want" começa de forma urgente, lembrando o som de uma sirene, antes de Annie cantar seus versos enigmáticos.
O álbum começa a ganhar mais forma à partir da terceira faixa, variando entre momentos de peso e suavidade em uma única canção - como em "The Neighbors" e "Marrow" - onde mais uma vez a guitarra de St. Vincent se destaca pela distorção e melodia não convencional, cheia de experimentalismos e dissonâncias. "Actor Out Of Work", música que quase dá nome ao disco, é curta e veloz, onde a moça dá o seu recado em pouco mais de dois minutos de duração. A deliciosa "Laughing With A Mouth Of Blood" possui bela melodia pop que poderia facilmente tocar em rádios comerciais se não fosse a temática menos convencional ("All of my old friends aren't so friendly / All of my old haunts are now all haunting me" canta ela no refrão).
A dobradinha "The Party" e "The Bed", respetivamente nona e oitava faixa do álbum, são minhas preferidas. Enquanto a primeira soa mais convencional, levada à cabo por piano e bateria, "The Bed", mais lenta, começa com uma misteriosa Annie cantando frases dignas de cena de um filme infantil sobre como assustar aqueles que estão a assombrando no quarto: "Estamos dormindo debaixo da cama / Para assustar os monstros / Juntamente com o papai Smith e Wesson / Vamos ensinar uma lição a eles" diz, em tradução livre. "Don't move / Don't scream / Or we will have to shoot" avisa lentamente, servindo como espécie de ponte para o refrão que vem à seguir, explodindo em uma bela e suave melodia vocal, acompanhada de arranjos de violinos, sopros e uma discreta percussão, fazendo deste um dos refrões mais bonitos do álbum: "Stop, right where you stand / We need a chalk outline if you can / Put your hands where we can see them, please", conclui.
Todo esse lirismo cinematográfico é constante e permeia o álbum inteiro, de modo em que St. Vincent conduz o ouvinte às mais ímpares sensações, sendo possível imaginar verdadeiros cenários, com os personagens mais diversos, dependendo da interpretação de cada um. A moça já declarou que se inspirou em filmes (inclusive da Disney) para compor as letras e melodias do álbum. Considerada uma artista diferenciada, Annie mostra que não tem medo de explorar suas ideias e apresenta um disco coeso e original.
Confira algumas performances ao vivo de canções que compõem este disco:
Marrow - Live on ACL
The Bed - Live on ACL