segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Music: Arctic Monkeys - AM (2013)


Arctic Monkeys - AM
   
Alternative, United Kingdom
2013

"If you like your coffee hot, let me be your coffee pot"

E o Arctic Monkeys ousou de novo. Passados sete anos desde o lançamento de seu primeiro disco, os ingleses apresentaram no início deste mês o quinto álbum da carreira. AM é um disco variado e arrojado, talvez o mais eclético até aqui. A começar pelo título, que parece significar muito mais do que apenas uma alusão ao nome da banda. As ondas na capa te lembram algo? Caso não, vejamos: "[...] um processo de transmissão através de Modulação em Amplitude, difundido em várias bandas de freqüência e caracterizado pelo longo alcance dos sinais, a freqüência AM está sujeita a interferências de outras fontes eletromagnéticas". Pois é, agora tudo faz sentido. E continuando: há várias novidades significativas em relação ao som do grupo. A produção ficou a cargo de James Form e Ross Orton, que fizeram um trabalho polido, resultando numa sonoridade cristalina, cheia de pequenos detalhes. Os inquietos meninos (que nem são mais tão meninos assim) agora nos apresentam um trabalho com grande influência de rhythm and blues, hip-hop ("'O único ponto de venda deste álbum é que ele soa como o Dr. Dre", disse Alex Turner) e muitos elementos eletrônicos, pontos praticamente inéditos na carreira da banda.

Logo nos primeiros segundos de "Do I Wanna Know?", faixa de abertura do disco, já é possível perceber a cuidadosa produção, onde o som da bateria é todo acompanhado de efeitos eletrônicos e palmas. A canção possui um riff  bem característico dos últimos trabalhos dos rapazes, mas o baixo no talo e as diversas camadas de backing vocals dão o tom do que virá pela frente. À seguir temos "R U Mine?", já velha conhecida do público, lançada há quase dois anos como single e é outra paulada, com baixo e bateria em primeiro plano enquanto Alex declama seus versos dignos de um rapper, cheios de acidez e sarcasmo. Esta música, juntamente com a ótima "Arabella", são referências diretas à namorada do vocalista, a modelo Arielle Vandenberg, que inclusive faz uma participação no videoclip "R U Mine?".

Mais do que nunca, em AM a banda explorou os vocais do baterista Matt Helders, que emprestou sua voz em praticamente todas as faixas do disco. Helders já vem arriscando seus dotes vocais há algum tempo, vide as antigas "D Is for Dangerous", "Brick by Brick", "Teddy Picker" e muitas outras, e é interessante notar que sua fina voz, tida muitas vezes como de gosto duvidoso, deu lugar a um potente vocal com influências R&B e soul, como é o caso em "One for the Road", que conta com a participação de Josh Homme dividindo os vocais com ele e Alex. O resultado é, no mínimo, imprevisível. "I Want It All" é mais uma das canções que tem significativa participação de Helders no vocal. Aliás, falando sobre variações vocais, nos últimos anos tornou-se notável o número de bandas que vem buscando novas alternativas vocais para suas canções. Diante de uma concorrência cada vez mais acirrada, tornou-se uma interessante forma de diversificar seu som.

"Arabella's got a '70s head, but she's a modern lover"

"No. 1 Party Anthem" é mais tradicional e trata-se de uma emocionante balada, quase parecendo um b-side do EP solo de Turner, "Submarine", lançado como trilha sonora do filme homônimo em 2011. "Why'd You Only Call Me When You're High?", que lembra muito "What's the Difference" do já citado Dr. Dre, ganhou um videoclip escrachado, com Alex atuando de forma cômica. A ótima "Snap Out of It" (outra carta na manga que corre o risco de se tornar hit a qualquer momento) tem um trabalho vocal belíssimo e é mais um dos muitos destaques do disco, onde a banda mostra o seu amadurecimento e como cada integrante soube aproveitar suas influências e lapidá-las de forma concisa. Em "Knee Socks" eles não economizaram nos efeitos, inclusive vocais, fazendo desta a mais eletrônica do álbum.

Há espaço também para canções mais convencionais, vide "Fireside" e "Mad Sounds". Mas parece que a cada música, um elemento inesperado surge em algum momento, seja uma pincelada eletrônica, um efeito vocal, enfim, um toque surpresa, impressionando o ouvinte. Para encerrar o disco de forma grandiosa, a banda optou por homenagear mais uma vez o poeta inglês John Cooper Clarke, fazer uma versão impecável para "I Wanna Be Yours", um de seus mais belos poemas. 

Após este memorável e inesperado registro, o Arctic Monkeys se consolida definitivamente como um dos nomes mais importantes da música do início do século e Alex Turner como um dos letristas/vocalistas mais geniais de sua geração. E que venha o próximo, pois o reinado do Arctic Monkeys ainda não tem data para acabar.





Movie: O Tempo e o Vento (2013)


O Tempo e o Vento
Jayme Monjardim, Brasil
2013

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Rodrigo Amarante disponibiliza para audição o seu disco solo, "Cavalo"

Foto: Caroline Bittencourt

Saiu! Finalmente o tão aguardado disco solo do eterno hermano Rodrigo Amarante foi disponibilizado para audição e pré-venda nesta segunda, 23. Intitulado "Cavalo", o álbum possui 11 canções, onde o ruivo canta em português, inglês e francês. O show abertura da turnê brasileira acontecerá ainda nessa semana, no Sesc Pompéia, em São Paulo (dias 26, 27 e 28) - onde os ingressos estão totalmente esgotados - e passará por outras capitais com Brasília, Rio de Janeiro, Curitiba, Recife, Salvador, Florianópolis e Porto Alegre. O baterista e também hermano Rodrigo Barba participará ao menos das cinco primeiras apresentações e não será de total espanto se esta não for a única surpresa no decorrer da mini-turnê.

O músico também disponibilizou em sua página oficial do Facebook uma carta de apresentação para o álbum (clique para ampliar):


Ouça abaixo o disco na íntegra:



Página oficial no Facebook: https://www.facebook.com/pages/Rodrigo-Amarante/316013055081493/
Compre o disco (iTunes): https://itunes.apple.com/us/album/cavalo/id709647937

domingo, 15 de setembro de 2013

Erlend Øye lança videoclip em italiano


O norueguês Erlend Øye, que compõe o duo folk Kings of Convenience parece mesmo saber como aproveitar a vida. Ele se mudou há cerca de um ano para Siracusa, província italiana localizada na Sicília e, ao que tudo indica, não sairá tão cedo. Alegre, bronzeado, rodeado de amigos e cantando em italiano: É assim que ele aparece no vídeoclip de "La Prima Estate",  o primeiro single de seu já anunciado novo álbum, que deve sair até o final do ano. O carismático músico já fez algumas apresentações pela região e vem até cantando alguns clássicos da terra mediterrânea para o deleite dos italianos, que aprovaram a nova empreitada do rapaz. Nos resta aguardar o que vem por aí!

Confíra o vídeo de "La Prima Estate":



quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Music: Vanguart - Muito Mais Que o Amor (2013)


Vanguart - Muito Mais Que o Amor
  
Alternative, Brasil
2013

Uma das bandas nacionais de maior destaque dos últimos anos, os cuiabenses do Vanguart lançaram no final de agosto este que é o terceiro disco do grupo. Intitulado "Muito Mais Que o Amor", o registro possui um intervalo de apenas dois anos de seu antecessor, o elogiado "Boa Parte de Mim Vai Embora", porém a expectativa para o seu lançamento era grande devido às inúmeras vezes que foi adiado. Produzido por Rafael Ramos, o álbum surpreende por mostrar uma banda mais à vontade no estúdio, experimentando outros patamares e incorporando novos instrumentos à sonoridade.

Ficou claro também que os rapazes quiseram dar um passo à frente na carreira, explorando uma vertente mais abrangente e comercial, e por que não dizer, popular? Para tal, se utilizaram de uma linguagem mais acessível, apostando em canções mais alegres e ensolaradas. Entre erros e acertos, a banda também optou por um registro mais enxuto que seus anteriores, apresentando ao todo onze canções. 

"Estive" abre o disco de maneira radiofônica: com uma levada folk acelerada e carismático apelo pop, a canção possui uma estrutura musical que vai crescendo gradativamente. Destaque para o emocionado vocal de Helio Flanders, declamando calorosos versos como "Uma vida é pouca pra gente ser feliz". Nunca o Vanguart soou tão radiante. A música também foi escolhida como primeiro single, característica já constante na carreira da banda, uma vez que as primeiras faixas dos trabalhos anteriores também acabaram se tornando carro-chefe de cada disco. Esta talvez seja a canção mais comercial dos rapazes até aqui.

A faixa seguinte, "Demorou Pra Ser", começa mansinha e imediatamente nos remete ao disco anterior, seja pelo arranjo característico ou a temática intimista. É interessante observar que, à partir daqui, grande parte das canções contam com um dueto vocal de Flanders e o baixista Reginaldo Lincoln, como é o caso de "Eu Sei Onde Você Está", forte candidata a hit, é mais uma faixa que possui uma atmosfera mais exultante e caracterizada por um marcante riff de guitarra no melhor estilo slide, que vai se repetindo durante toda a música.


Mantendo o alto-astral, a apaixonada "Meu Sol" briga pelo posto de melhor do disco, com destaque para belo arranjo de violino (ponto para a talentosa Fernanda Kostchak, agora definitivamente integrada à banda), que dá um toque todo especial à música, numa das melodias mais bonitas do álbum. "A Escalada das Montanhas de Mim Mesmo", como o próprio nome sugere, é uma triste canção que se arrasta pelos seus três minutos e quinze segundos de duração, lembrando os momentos mais melancólicos do Los Hermanos com arranjos de metais tão explorados em seus últimos trabalhos. "Sempre Que Estou Lá" é uma canção mais convencional com guitarras e teclados característicos da banda e também remete ao disco anterior. "Vamos pisar nos pedais e fugir" canta Helio no bonito refrão.

"O Que Seria de Nós" começa muito bem com bandolim e gaita solando em primeiro plano, mas peca pela óbvia letra e curta duração. Helio começa a cantar pobres versos como "O que seria de você sem mim? / O que seria de mim sem você? / O que seria de nós dois sem nós?" e não convence, numa passagem pouco inspirada, temos que admitir. Se a intenção era fazer uma pequena vinheta, deveriam ter dado mais atenção à letra, criando algo mais impactante. Aliás, no quesito poesia, e até pelo histórico da banda após o elogiadíssimo disco anterior, era esperado uma contínua evolução nas composições, o que acaba não se concretizando totalmente. Oscilando entre momentos mais inspirados e outros bem regulares, a sensação que fica é que Flanders se manteve no mesmo patamar, como é o caso da mediana "Pelo Amor do Amor".

Levada à cabo por um piano, a surpreendente "Pra Onde Eu Devo Ir" chega a lembrar as famosas duplas sertanejas que surgiram no início dos anos noventa, talvez pela temática e o (ótimo) dueto vocal de Flanders/Lincoln. Mais um ponto para o Vanguart que não teve medo de ousar, criando uma inusitada melodia e chegando a um resultado bem interessante. Se os rapazes tinham receio de explorar a fundo o dueto vocal fazendo-o ocasionalmente, neste disco fica evidente que é uma veia que pode ser muito bem explorada daqui em diante.

Diferentemente dos discos anteriores, a participação de Reginaldo Lincoln nos vocais principais limitou-se apenas à canção "Mesmo de Longe", mantendo sua influência pop característica e vocais melódicos já usuais em suas composições. A música é boa e trás novamente a dupla Flanders/Lincoln dividindo os vocais no refrão. "Olha Pra Mim" encerra o disco de maneira desolada. Aqui o bandolim e os sopros conduzem a melodia emocionada enquanto Helio se despede com versos esperançosos: "Vem cá, eu vou te dar tudo de mim / E o amor irá nos acompanhar até o fim". O que virá depois?


Site oficial: www.vanguart.com.br